
Por Cláudio Dalla Benetta
Enquanto o Brasil ainda não se decidiu a produzir diesel renovável (produzimos biodiesel, também importante), o Paraguai vai ganhar a primeira fábrica do Hemisfério Sul para produção de diesel e querosene renováveis.
A EBC Group, holding de investimentos do empresário brasileiro Erasmo Carlos Battistela, assinou com o governo do Paraguai, na segunda-feira (25), acordo para um plano de investimentos no país, o maior deles no complexo Ômega Green.
Com investimento estimado em mais de US$ 800 milhões, o complexo abrigará a primeira planta de combustíveis renováveis de segunda geração do Hemisfério Sul.
O diesel HVO (sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil) e o querosene SPK (Synthetic Paraffinic Kerosene) podem ser feitos a partir de diferentes origens, como óleo usado, óleo de colza, óleo de palma e gordura animal.
A utilização destas fontes de energia tem um enorme impacto na redução das emissões de gases com efeito de estufa.Odiesel, em comparação com o diesel padrão, pode atingir até 90% de redução de emissões de CO2.
Acordo de Paris

O complexo Ômega Green terá capacidade de produção diária de até 16.500 barris de diesel e querosene renováveis. A maior parte dessa produção será voltada à exportação para países signatários do Acordo de Paris, que precisam acelerar a redução das emissões de gases de efeito estufa por meio da substituição dos derivados de petróleo.
Já se estima que a produção de óleo e querosene renováveis (este pode ser utilizado na aviação civil e militar) aumentará o potencial de atração de capitais internacionais ao Paraguai, com adição ao Produto Interno Bruto paraguaio estimada em mais de US$ 8 bilhões ao longo de uma década.
Aqui, ainda não
O engenheiro Olimpio Alvares, especialista em transporte sustentável, lamenta que o Brasil ainda não esteja levando a sério a utilização do HVO ao menos no transporte coletivo, uma alternativa que poderia afastar os ataques do ambientalismo climático aos motores diesel convencionais".
Esses motores, segundo ele, precisariam apenas sofrer pequenas alterações. Mas, antes, motores brasileiros e importados precisam ser testados em todos os aspectos, para verificação da degradação das emissões ao longo do uso e eventuais desgastes e danos mecânicos aos componentes do motor e periféricos.
Com exceção da Mercedes Benz, que prometeu – mas ainda nada fez – analisar o uso desse diesel, nenhuma outra montadora instalada no Brasil se interessou, segundo o engenheiro.
Mais empregos e renda
Voltando ao Paraguai, o complexo industrial pra produção de óleo e querosene avançados vai gerar mais de 3 mil empregos durante sua construção e 2,4 mil empregos diretos e indiretos durante a operação, além do aumento da renda para agricultores locais. Ao todo, serão beneficiadas mais de 10 mil famílias, por meio de programas de certificação social da produção familiar.
Na reunião com os empresários do grupo, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, disse que o governo dará todo o apoio possível ao projeto e destacou o quanto o país tem trabalhado para facilitar investimentos que promovam crescimento econômico e social.
O presidente afirmou que a estratégia do Paraguai é ser uma referência em logística e ambiente favorável aos investimentos.
Orgânicos e renováveis
A produção de diesel e querosene no Paraguai, segundo o grupo, terá como insumos principais somente produtos orgânicos e renováveis, como óleo de soja produzida em áreas sem passivo ambiental e obtido através da extração com uso do hexano renovável, gordura animal reaproveitada, óleo de cozinha reciclado e hidrogênio totalmente obtido por meio da eletrólise da água – e não pela reforma de gás natural.
O complexo será alimentado exclusivamente por energia de fontes renováveis. “Nosso objetivo é ter a produção de biocombustíveis avançados mais limpa e renovável possível, sem igual no mundo, certificada pelos mais rigorosos critérios internacionais de qualidade e sustentabilidade”, garante Erasmo Carlos Battistella, presidente do ECB Group.
Vantagens do Paraguai
Segundo Battistela, a escolha pelo Paraguai para o novo investimento atendeu a vários critérios. "É um país que tem criado ambiente favorável para receber novos investimentos", diz. Ele destaca a disponibilidade de matéria-prima e energia elétrica.
"Além disso, o Paraguai é um dos países que têm menor carga tributária, e a logística através da hidrovia do Rio Paraguai é muito competitiva para exportarmos."
“Hoje (dia do acordo com o governo) é um dia muito importante. Concluímos os estudos de viabilidade do Ômega Green e vamos à segunda fase, a etapa do projeto executivo. Queremos começar as obras ainda em 2019”, diz o empresário. A implementação da planta tem duração prevista de 30 meses, e a intenção é ter plena capacidade produtiva a partir de 2022. A planta terá 400 funcionários diretos e 2 mil indiretos.
A unidade será instalada às margens do Rio Paraguai e contará com um terminal logístico rodoviário e portuário, com escoamento da produção por hidrovia.
Líder do mercado em 2018, a BSBIOS, empresa que faz parte da holding, foi a primeira empresa brasileira a exportar biodiesel e mantém relações comerciais com 32 países. O empresário diz que a exportação de óleo e querosene a partir do Paraguai não irá competir com a exportação de biodiesel.
Fontes: Agência Estado, Revista Amanhã, Diário do Transporte e Agência IP
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