
Os migrantes paraguaios que vivem na Espanha remetem a seu país de origem US$ 266 milhões ao ano (quase R$ 1,10 bilhão), considerando a média anual desde 2010 até 2019, mostra reportagem do jornal ABC Color deste domingo, 5.
Cerca de 70% dos migrantes são mulheres, que conseguem empregos rejeitados pela maioria das espanholas, como os serviços domésticos e de cozinha, por exemplo. A Espanha é o segundo país mais procurado pelos paraguaios que emigram (a Argentina é o primeiro e o Brasil o terceiro).
O salário desses paraguaios, na Espanha, é o mínimo legal (varia de 900 euros, se forem considerados 14 pagamentos mensais por ano, ou 1.050 euros, para 12 pagamentos mensais, conforme prevê a legislação do país).
Em reais, os salários variam, portanto, entre pouco mais de 4 mil e R$ 4.750. Para padrões paraguaios e brasileiros, um bom salário. Mas, considerando o custo de vida espanhol, só com sacrifício esses migrantes conseguem economizar para mandar dinheiro a seus parentes que continuam no Paraguai.
Vivem na Espanha menos de 100 mil paraguaios. Para chegar à remessa média equivalente a US$ 266 milhões por ano, isso significa que cada um deles economiza cerca de 200 euros ou pouco menos que isso. E sobrevivem com o restante, que precisa pagar comida, aluguel (embora muitos morem no local do emprego) e outros gastos normais.

Não é uma vida fácil, com certeza, mas não há reclamações. A reportagem do ABC Color conversou com várias paraguaias no aeroporto de Madri, quando vinham passar as festas de fim de ano no Paraguai, e não ouviu queixas. "Não reclamo de nada", disse uma das mulheres do grupo de paraguaias, em guarani.
"Gente solidária, acostumada a compartilhar e a sobreviver", diz o jornal, a comunidade paraguaia na Espanha remete ao seu país de origem o equivalente a um quarto do valor das exportações de carne, que em 2019 atingiram US$ 1 bilhão.
E isso não inclui o que elas trazem ao Paraguai nas bolsas e malas, quando vêm visitar os parentes, tanto em dinheiro vivo como em presentes.
O esforço das paraguaias na Espanha supera o daqueles compatriotas que vivem na Argentina e nos Estados Unidos, por exemplo, de onde as remessas não são regulares e, muitas vezes, caem, enquanto a média procedente do país europeu se mantém estável.
Interesse do governo
Pesquisa feita na Universidade de Campinas – Unicamp mostra que o governo paraguaio vê com naturalidade os movimentos de emigração do país, motivados principalmente por cidadãos que buscam trabalho no exterior.
O economista Caio Valentino, autor do estudo, diz que a emigração "surge como válvula de escape para o governo paraguaio, aliviando a pressão sobre a demanda por trabalho, além de trazer benefícios econômicos".
Em 2010, dado obtido pela pesquisa, 9,1% dos domicílios paraguaios receberam ajuda de parentes que vivem no exterior. As remessas contribuíram para reduzir as diferenças de renda em relação àqueles que não contaram com esta ajuda.
A pesquisa mostrou que uma parcela considerável dos paraguaios que buscaram melhores condições no exterior estava empregada no Paraguai, o que demonstra a insatisfação com as condições oferecidas.
Com uma população de menos de 7 milhões, o Paraguai tem 550 mil conterrâneos vivendo na Argentina, segundo o Censo de 2010 (o número deve ter aumentado). No Brasil, eram entre 40 mil e 60 mil apenas na região metropolitana de São Paulo, que atrai cada vez mais migrantes não só do Paraguai, como da Bolívia e de outros países da América Latina.
O fenômeno da migração é normal em países que não oferecem condições de vida a todos. Vale lembrar que, a partir da década de 1960, quando o Paraguai permitiu a compra de terras por estrangeiros, formou-se lá uma grande comunidade brasileira, calculada hoje em 350 mil pessoas. Mais de 5% de toda a população paraguaia.
Fontes: ABC Color, Unicamp e site Vaipraeuropa
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