Pioneiro João Samek falece em São Miguel

Faleceu hoje, 24, o pioneiro João Samek. Ele era casado com Cristina Lacki Samek e deixa três filhos (João, Marcos e Jorge, este diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional). O velório e sepultamento ocorrem às 17 horas, na capela do Cemitério São João Batista, em Foz do Iguaçu.

Faleceu hoje, 24,  o pioneiro João Samek. Ele era casado com Cristina Lacki Samek e deixa três filhos (João, Marcos e Jorge, este diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional). O velório e sepultamento ocorrem às 17 horas, na capela do Cemitério São João Batista, em Foz do Iguaçu.

Leia a seguir a entrevista concedida por João Samek publicada no livro Foz do Iguaçu – Retratos, produzido pela Campana & Alencar Ltda (antiga editora dos jornalistas Silvio Campana e Chico de Alencar), em 1997.

Os gaúchos e catarinenses se encontravam com a fertilidade das terras do Oeste do Paraná

Nascido em 1923, filho de migrantes poloneses, pai de três filhos, João Samek tem apreciável currículo na história de Foz do Iguaçu desde o início da década de 40, quando aqui chegou. Iniciou sua vida em Foz, como caixeiro, passou para a Panair. No comércio, na Marinha, na aviação, na colonização e na agropecuária estão suas marcas, como se vê a seguir. (Juvêncio Mazzarolo)

— Qual a origem de sua família? De onde veio?
—  
Meus pais migraram da Polônia para o Brasil no fim da Primeira Guerra Mundial. Foram para Colatina, Espírito Santo, trabalhar em cafezal e pecuária. Na década de 20 a recessão mundial afetou violentamente o Brasil, especialmente seu principal produto de exportação, o café. Meu pai produzia café e não tinha a quem vender. Para piorar, pegou malaria e quase morreu, então vendeu tudo e, guiado por boas noticias a respeito do Paraná, embarcou a família num trem e fomos para a Ponta Grossa. Comprou terras em Quedas do Iguaçu e lá também produzia bem, mas não tinha onde vender porque estava longe de todos cidades.

— Então vendeu tudo outra vez?
Vendeu e foi a Guarapuava. Certo dia, um caminhão Ford-29 ia partir com mercadorias para Foz do Iguaçu e o motorista convidou meu pai para acompanha-lo e conhecer a região. Veio e, em conversa com Jorge Lakus, que viria a ser meu sogro, se convenceu de vir morar aqui. Viemos de carroça numa viagem que durou 25 dias.

— Começou fazendo o que em Foz do Iguaçu?
Eu tinha curso primário incompleto, que na época valia por curso superior, então fui trabalhar numa venda como caixeiro. Dois anos depois um marinheiro amigo meu me disse que eu estava perdendo tempo e perguntou se eu queria trabalhar na Panair do Brasil, empresa aérea que voava para Foz do Iguaçu. Aceitei. Fazia de tudo na Panair. Lá por 1946 fui enviado ao Rio fazer um curso. Na volta assumi a gerência da empresa na cidade.

— Como é a história da Painair voando para Foz do Iguaçu?
 — A Panair era um filhote da Panamerican, que voava por todo o Brasil. Pela lei nacionalista de Getulio Vargas, empresas estrangeiras poderiam ter no máximo 49% do capital. Assim era a Panamerican e sua subsidiaria, a Panair do Brasil. Daqui eu despachava os aviões DC-3, com 32 lugares, para Buenos Aires, São Paulo, Miami. A empresa era maior que a Varig, que quase só esperava no Rio Grande do Sul. A Panair operava por todo o Brasil, inclusive na Amazônia. Mas em fins de 1959 a Panair extinguiu os vôos para Foz do Iguaçu, porque eram deficitários.

— Os vôos eram de carga e passageiros? Vinham muitos turistas?
Vinham com carga e passageiros, principalmente turistas americanos, que conheciam o Brasil mais e melhor do que os brasileiros.

— Aconteceu algum acidente nesses vôos para Foz do Iguaçu?
Aconteceu um acidente, mas sem vitimas, e nem foi aqui. Um avião vinha de Curitiba com tempo ruim e não pôde pousar, então voltou. Na viagem pifou o  sistema de comunicação, então o avião teve que descer em Catanduvas, numa pista de lama, e encalhou.

— Com o fim dos vôos da Panair o senhor perdeu o emprego? Foi fazer o quê, então?
A Panair me convidou para trabalhar no Rio de janeiro, mas eu preferi ficar em Foz do Iguaçu. O mesmo marinheiro que me introduziu na Panair me levou para a Marinha. Trabalhei lá uns dois anos, como secretario. Mas havia na regiao a colonizadora pinho e terra, dos dalcanelle e ruaro. Certo dia, o ruaro veio com uma carga de madeira para embarcar no rio paraná e perguntou se não queria trabalhar com eles, ganhando muito mais do que ganhava da marinha.

—  proposta irrecusável…
É mais o comandante da marinha não queria me deixar sair. Ate ameaçou me prender se saísse. Mostrei a ele que iria ganhar bem mais na colonizadora. Então deixou que saísse.

— Que empresa era desse pinho e terra? Como ganhou o direito de colonizar a região oeste? Que terras comercializava?
A situação legal das terras era complicada. Ate a constituição de 46, a fronteira, numa faixa de 150 quilômetros de largura, era de domínio da união começou a distribuir áreas e empresas para promoverem a colonização. Alberto e Luiz Dalcanalle e Alfredo Ruaro criaram a Pinho e Terra e conseguiram autorização para colonizar toda faixa que vai de foz do iguaçu até perto de cascavel. Foi um exemplo de colonização. Abria uma gleba, loteava e dotava de infraestrutura mínima, com igreja, escola, praça, um núcleo populacional que passava a ser embrião de uma cidade. Assim surgiram Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Matelândia….

— Quando começou a se intensificar essa colonização do Oeste? Para quem a Pinho e Terra vendia terras?
Foi na década de 50, começo migração de agricultores do Rio Grande Do Sul e Santa Catarina pra cá. A migração se intensificou na década de 60 e mais ainda na de 70. os gaúchos e catarinenses deixavam suas terras esgotadas no sul e ficavam encantados com a fertilidade e a comodidade das terras do Oeste do Paraná.

— E foi ai que o senhor também conseguiu sua terra e virou latifundiário?
Comprei minha terra, mas não creio que seja latifundiário. Tinha cerca de 500 alqueires, dos quais perdi cerca de 150 para o lago de itaipu. Com o que sobrou formei a fazenda Cacique. Localizada perto de São Miguel do Iguaçu, naquela área de foz do iguaçu seccionada pelo lago de itaipu, as chamadas Malvinas.

— Nessa fase de colonização havia conflitos na terra?
Não, ate porque a terra tinha pouco valor comercial. Lutas, conflitos surgiram depois, já nas décadas de 60 e 70, com a valorização das terras.

— Antes trocava-se uma colônia de terra por uma garrafa de cachaça…
Sim. Meu pai, se quisesse, podia pegar a área que bem entendesse.

— Mas houve muitas disputas, muitos conflitos fundiários, inclusive com morte, que o senhor deve ter acompanhado.

Houve, sim, mas em Foz do Iguaçu quase não aconteceu isso. Invasões tem ocorrido mais recentemente em Matelândia e Medianeira – coisas dos em-terra, fenômeno recente.

— O senhor teve longa atuação no Sindicato Rural de Foz do Iguaçu, bastante antigo. Foi um dos fundados?
Não, quando foi fundado eu ainda trabalhava na Panair. Na época chamava-se Associação Rural. Eu entrei no Sindicato em 1970, depois de estruturada minha fazenda e já com os filhos ajudando. Peguei o Sindicato falido e queimado pelo ex-presidente, Cleodon Albuquerque, que confundia o Sindicato com partido político (Arena) e o candidato, o irmão Tércio. Isso afastou muitos associados Saneamento tudo e desde então o Sindicato Rural vai bem.

— Presidiu o Sindicato por quantos anos ou mandatos?
Exerci três mandatos de três anos cada.

— Quantos associados têm? Há boa participação deles?
São cerca de 400 sócios.  A participação é boa, mas não a ideal.

— O que faz, o que oferece o Sindicato Rural aos ruralistas? — O sindicato é o órgão de defesa do agricultor. Leva reivindicações e sugestões à Federação para serem defendidas nos governos estadual e federal. Lutamos por financiamentos agrícolas, pela assistência técnica, pela aposentadoria do agricultor…

— Em matéria de políticas agrícolas globais, de reforma agrária, preços, etc., que posições assume o Sindicato?
Participamos em lutas conjuntas da categoria que reivindicam, por exemplo, preços mínimos compatíveis com os custos de produção e necessidade de margem de lucro para que possa haver reinvesti mentos e ampliação do cultivo. Lutamos contra os altos juros e por financiamento à agricultura.

— Quais seriam as grandes linhas ou etapas da agricultura e pecuária na região? A primeira terá sido uma fase predatória, marcada pela extração da erva-mate e da madeira, levadas pela Argentina até a Europa. Durou até a década de 70, quando as matas foram arrancadas ou queimadas para dar lugar a agricultura intensiva e em grande escala, mecanizada, adubada e agrotoxizada…
Sim, foi quando foram introduzidas as culturas de grãos  (soja, milho, trigo), geralmente precedidas do cultivo da hortelã, cujo óleo rendia muito dinheiro. Retirava-se do mato o que sobrava de madeira, destocava-se para plantar. Ao mesmo tempo implantou-se uma pecuária forte na região. Era fácil. Derrubava-se a floresta, ateava-se fogo, plantava-se capim colonião e milho. Colhido o milho, o pasto estava formado.

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