
A primeira vista pode parecer decepcionante aos menos avisados, mas esta impressão é facilmente dissipada após um olhar mais apurado. A cultura guarani, nação originária do Paraná e de boa parte do Brasil, resistiu aos anos de devastação e hoje é passada de geração a geração como um grito que teima em não se perder no limbo da indústria cultural.
A primeira vista pode parecer decepcionante aos menos avisados, mas esta impressão é facilmente dissipada após um olhar mais apurado. A cultura guarani, nação originária do Paraná e de boa parte do Brasil, resistiu aos anos de devastação e hoje é passada de geração a geração como um grito que teima em não se perder no limbo da indústria cultural.
Os novos indígenas, ao contrário dos antepassados, crescem convivendo com os ensinamentos do homem branco e fazem desta convivência uma arma de resistência para suas aldeias.
Exemplo desta resistência à globalização cultural pode ser encontrado nas quatro aldeias do litoral do Paraná, localizadas nos municípios de Piraquara, Guaraqueçaba, Pontal do Paraná e a Pindo Ty (monte de palmeiras) na Ilha da Cotinga em Paranaguá.
Esta última recebeu, no sábado (16 de junho), a visita dos alunos do curso de Guarani da Universidade Federal do Paraná (UFPR), atividade extra-classe coordenada pela professora Olga Elizabth Herrera.
O grupo chegou ao local pouco após 20 minutos de navegação na Baia de Paranaguá. O cacique Vera.i (Pequeno Raio), ou Nilo Rodriguez (no registro da Funai), 35 anos, se encarregou da recepção aos estudantes (foto acima) . A aldeia, demarcada em 1962, é formada por 16 famílias, totalizando 62 indígenas – 36 são crianças com idade de zero a 12 anos.
Na cultura guarani, as crianças (foto abaixo) representam o principal tesouro da aldeia e recebem atenção especial de todos, independente de parentesco ou não. As crianças são o principal alvo para condução da cultura da nação na aldeia, segundo explicou o cacique Vera.i.
Primeiro elas aprendem a nossa cultura. É a forma que encontramos para preservar nossos costumes, afirma. Segundo ele, hoje em dia este pensamento ocorre em todas as aldeias de origem guarani.
Panorama – A reserva da Ilha Cotinga, de 1,8 mil hectares, dispõe de uma escola onde são ministradas aulas de português e da língua nativa para 38 alunos (apenas dois são adultos). O espaço também é utilizado para atendimento na área de saúde da aldeia. Os indígenas da Pindo Ty mantém suas tradições de sobrevivência com artesanato e cultivo de mandioca e milho.
Vera.i explica que o contato das crianças com os brancos é quase inexistente, apenas quando vamos à cidade vender nosso artesanato. A produção artesanal guarani retrata animais e aves típicos, cachimbos e enfeites como colares, pulseiras, etc.
Mesmo estando num paraíso tropical, os contrastes da vida primitiva com o mundo moderno estão bem a vista dos indígenas. São os arranha-céus de Paranaguá que aparecem imponentes do outro lado da baia, ou mesmo as casas de alvenaria construídas na aldeia pela Cohapar para melhorar a qualidade habitacional do grupo. Os sinais da globalização também estão presentes nas roupas coloridas, doadas por visitantes ou programas sociais do poder público.
Local de reuniões
Mesmo com traços da cultura ocidental tão presentes, os indígenas não abrem mão de costumes milenares. A Casa da Reza (foto abaixo) é o lugar mais sagrado da aldeia. Fechada com paredes de taquara e barro seco com cobertura de palha, a Casa da Reza é a residência oficial do pajé e só é aberta no final da tarde e a noite. O local é o ponto de confraternização de todos os membros da aldeia.
Primeiro as crianças se reúnem para danças e rituais característicos. Só depois chegam os adultos, explica o cacique. Segundo ele, os indígenas permanecem no local até duas ou três horas da madrugada.
Atualmente a aldeia está se preparando para receber, no dia 24 de setembro, um encontro de pajés de todas as aldeias guarani. Vera.i acredita que pelo de 20 a 30 virão para o encontro. Também devemos receber um pajé do estado de São Paulo, informa.
Antes do retorno para Curitiba, os alunos foram premiados com apresentações de danças características da cultura guarani. As cantigas, segundo o cacique retratam temas específicos da vida na aldeia como a luta pela comida, caça e pesca, confecção de peças artesanais, entre outros.
(Portal H2FOZ – Ronildo Pimentel)
Fotos: Terence Keller
Comentários estão fechados.