Foz e Ciudad del Este podem estar unidas mais cedo do que se pensa. Veja os sinais

As negociações entre as prefeituras das duas cidades, que contam com apoio do empresariado e da população, são bem-vistas em Brasília e Assunção.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Antes de contar o que rola de novo na história do fecha e quase não abre (mas vai abrir) da Ponte da Amizade, vale um resumo rápido. Vai que o leitor não acompanhou tudo ou se esqueceu. Afinal, parece que já estamos há séculos nessa pandemia sem fim.

Vamos lá. Os primeiros a sentir a crise, quando a Ponte da Amizade foi fechada, em 18 de março, foram os comerciantes de Ciudad del Este. Depois, os empregados brasileiros, os primeiros a ir pra rua. Aí a crise foi se estendendo a todos os setores, afetando também fortemente Foz do Iguaçu.

Só não atingiu os contrabandistas e os traficantes de armas e de drogas, que se tornaram ainda mais ousados, fazendo do Rio Paraná e do Lago de Itaipu quase uma “fronteira terrestre”, apesar da repressão nas duas margens.

A pressão sobre o governo paraguaio foi crescendo continuamente. A tal ponto que explodiu no dia 29 de julho, quando o governo, com base nos casos de covid-19, decidiu retroagir Alto Paraná, departamento cuja capital é Ciudad del Este, à fase zero da quarentena.

Houve distúrbios, saques, confrontos, vandalismo, roubos, tiroteios e feridos. Antes mesmo de esperar a nova manifestação, no dia seguinte, o governo paraguaio voltou atrás e afrouxou as medidas, permitindo o funcionamento do comércio, embora em horários restritos.

“Revolução”

O governo fez bem. E melhor ainda se for considerado o que disse o prefeito de Ciudad del Este, Miguel Prieto, de acordo com o jornal ABC Color:

“Temos que voltar a trabalhar, voltar a produzir, porque pode ocorrer uma revolução a partir de Ciudad del Este, e estou convencido que o governo já sabe”. A única saída para a crise, disse o prefeito, “é reabrir a Ponte da Amizade”.

Depois disso, ele se reuniu com autoridades de Foz do Iguaçu, para elaborar um plano de cooperação que fortaleça os serviços de saúde pública nos dois municípios e, também, para conseguir a reabertura da Ponte da Amizade.

Aliás, o plano de cooperação só vai funcionar com as fronteiras abertas. Uma coisa leva a outra.

Autoridades das duas cidades reunidas em Foz. Foto Prefeitura de CDE

Pandemia

As autoridades das duas cidades conversaram sobre a pandemia de covid-19, o maior problema tanto da região de fronteira como do resto do mundo. Trocaram dados sobre casos registrados nos dois municípios e a capacidade de resposta dos respectivos sistemas de saúde, conforme a assessoria da Prefeitura de Ciudad del Este.

Foz do Iguaçu, segundo a notícia divulgada no site da Prefeitura da cidade paraguaia, conta com um sistema de monitoramento permanente que permite controlar a propagação e o alcance que vai atingindo o vírus.

Em Foz do Iguaçu, 45% da população já contraíram o vírus, segundo a Prefeitura. Antes de pensar na reabertura da ponte, a intenção é que Ciudad del Este dimensione também a quantidade de pessoas que contraíram o vírus. Para isso, Foz ofereceu cooperação.

Prieto também visitou o Hospital Municipal de Foz, onde conheceu o sistema utilizado para monitoramento e tratamento dos pacientes com covid-19. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Ciudad del Este disse que há vontade, por parte de Foz, de cooperar para melhorar os serviços de saúde de Ciudad del Este.

Agora, aos sinais positivos

Do lado paraguaio, a agência de notícias do governo (Agência IP) informa que o chefe do Gabinete Civil da Presidência, Juan Ernesto Villamayor, considera necessária a implementação de medidas inteligentes que permitam compatibilizar as medidas sanitárias contra coronavírus com a recuperação econômica, particularmente nas zonas fronteiriças do país.

Ligado diretamente ao presidente Mario Abdo Benítez, até agora um feroz defensor das fronteiras fechadas, Villamayor disse que a “reabertura inteligente” pedida pelos empresários e prefeituras de Foz e Ciudad del Este é um tema que deve ser analisado por todos os atores envolvidos.

No entanto, mostrou-se a favor dessa reivindicação, considerando que é insustentável  um isolamento indefinido como estratégia de combate à pandemia.

“Não podemos ter como único método, em uma sociedade como a nossa, com as aspirações que temos e necessidades, um método que vem de 4 mil anos atrás”, disse, ao referir-se às medidas de isolamento.

Sustentou que não há país nenhum que aguente manter-se isolado do resto do mundo, considerando-se a grande crise econômica que esta determinação provoca. “Temos que estudar, temos que compatibilizar. O vírus está em todo o mundo, o problema econômico também, mas há que compatibilizá-los”, aconselhou.

E do lado brasileiro?

Interlocutores do governo brasileiro em Foz do Iguaçu garantem que há simpatia pela ideia de reabrir as fronteiras, para reativar a economia nos dois países.

O nome do general Joaquim Silva e Luna, diretor-geral brasileiro de Itaipu, vem sendo unanimemente citado como a pessoa certa para fazer chegar ao presidente da República, Jair Bolsonaro, não só as reivindicações, mas as considerações sobre os benefícios que a reabertura da Ponte da Amizade traria, desde que considerados todos os protocolos sanitários para permitir o ingresso seguro de um país a outro.

Só um detalhe importante, pra fechar (digo, abrir)

É quase certo que a Ponte da Amizade vai reabrir. Só é preciso ter um pouco mais de paciência. Do lado paraguaio, Ciudad del Este – e o departamento de Alto Paraná todo – estão ainda numa fase de quarentena restrita, que substitiu as medidas mais radicais decretadas no dia 29 de julho.

Essa fase deve durar mais duas semanas, período em que as fronteiras continuarão fechadas, conforme adiantou o chefe do Gabinete Civil da Presidência, Juan Ernesto Villamayor.

Se for assim, dá tempo de preparar tudo para a reabertura, tendo o aval dos dois presidentes.

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