Terroristas mortos por militares paraguaios foram os sequestradores de ex-vice-presidente

É o que revela o jornal ABC Color. Os três eram procurados pela Justiça sob acusações de sequestros e assassinatos.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

A identidade dos três integrantes do Exército do Povo Paraguaio (EPP), mortos em confronto com a Força de Tarefa Conjunta, foi revelada pelo governo, neste sábado, 22. Os três são os mesmos que sequestraram, há dois meses, o ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis, informa o jornal ABC Color.

Os guerrilheiros estavam num grupo de oito pessoas, que se deslocavam para um local no Cerro Guazú, departamento de Amambay (o departamento faz fronteira com o Mato Grosso do Sul), quando foram surpreendidos por seis militares da Força de Tarefa Conjunta (FTC). No confronto, três morreram e os outros fugiram.

Um dos mortos é Lucio Silva, de 61 anos, que já esteve preso por assalto a banco e é um dos mais antigos da guerrilha. Ele estava foragido desde 2012, quando participou do ataque a uma patrulha militar. Tinha 90 ordens de prisão por homicídio doloso, sequestro, privação ilegítima de liberdade, associação terrorista, tentativa de homicídio e roubo frustrado, entre outras.

O filho dele, Claudelino Silva Cáceres, de 22 anos, foi abatido na noite do sequestro de uma das vítimas do EPP, Arlan Fick Bremm. A mulher dele, Elisa Escolástica Cáceres de Silva, é procurada pela Justiça pelo sequestro do menonita Franz Wiebe Boschmann, em 2016 ou 2017, sempre segundo o ABC Color.

Os outros dois filhos de Lucio Silva, Samuel e Jorgelina, ainda integram o braço armado do EPP. Jorgelina é mulher de um dos chefes do grupo criminoso, Osvaldo Daniel Villalba Ayala, de 37 anos.

Assassino de casal alemão

O segundo sequestrador morto é Esteban Marín López, de 36 anos, que ostentava o título de “tenente” nas fileiras do Exército do Povo Paraguaio. Seu batismo de fogo, conta o ABC Color, ocorreu em 2013, quando ele e seus companheiros mataram o comissário de Horqueta, Manuel Enrique Escurra Acosta.

O jornal Hoy completa informando que ele era procurado por associação criminosa, homicídio doloso, sequestro, terrorismo, tentativa de homicídio doloso e apologia ao crime, num total de 15 ordens de prisão.

Como chefe de uma das células do EPP, Esteban assinou o casal alemão Roberto Natto e Érica Reiser. Ele ordenou que o casal, que havia sido sequestrado horas antes, se ajoelhasse e se abraçasse, antes de atirar nos dois com uma pistola.

Em 2019, apareceu num vídeo em que lia um comunicado do EPP. Foi ele quem comandou o sequestro do ex-vice-presidente Óscar Denis, no dia 9 de setembro. Ainda não se sabe o que aconteceu com o sequestrado.

O terceiro homem abatido pelos militar é Rodrigo Argüello Larrea, de 21 anos, procurado por vários atentados, em que houve mortes e sequestros. Quando tinha 15 anos, Rodrigo foi sequestrado pelos próprios irmãos, que tinha 25 anos naquela época, e Benício, então com 23 anos, e obrigado a converter-se em guerrilheiro.

Benicio e Jhonny apareceram mortos em 7 de junho deste ano, na mesma região onde agora Rodrigo foi abatido.

O confronto

Fuzil encontrado com um dos guerrilheiros, roubado num massacre de militares. Foto ABC Color

Sabendo qual o caminho que os guerrilheiros traçariam, seis militares de uma patrulha se posicionaram num monte, cinco deles portando fuzis M4 com miras térmicas, que lhes permitia detectar uns 500 metros antes os sinais de calor das silhuetas que se aproximavam.

O sexto militar, um franco-atirador, usava um moderno rifle calibre 338. Ao comunicar ao comando o avistamento dos guerrilheiros, os militares receberam a ordem de detê-los. Eles esperaram, então, que o grupo se aroximasse a cerca de 150 metros, quando lhes ordenaram que parassem.

O guerrilheiro Rodrigo Argüello, no entanto, abriu fogo com um fuzil AK47, recebendo automaticamente dois balaços, um dos quais na cabeça, disparados a exatamente 118 metros.

Esteban também chegou a atirar com seu fuzil M4, mas foi morto com três tiros, 46 metros atrás de Rodrigo. A arma que ele usava tinha sido roubada em 2016, quando foram massacrados oito militares em Arroyito.

O terceiro sequestrador na fila conseguiu fugir para um monte, mas o que vinha atrás dele, Lucio Silva, foi alcançado por quatro projéteis de calibre 338 do franco-atirador militar, que estava a uma distância de 398 metros, conforme as informações obtidas pelo ABC Color.

O confronto entre militares e guerrilheiros foi a 60 quilômetros em linha reta do local onde foi sequestrado o ex-vice-presidente Óscar Denis, no município de Bella Vista Norte, departamento de Amambay.

Lembranças de uma mochila

Pertences encontrados com os guerrilheiros mortos. Foto Jornal Hoy

O jornal Hoy traz o relato de Hans Lindstrom, sobrinho do brasileiro Luis Lindstrom, que foi sequestrado em 2008 e passou um mês em poder do Exército do Povo Paraguaio.

Hans viu, entre as fotos do confronto, a imagem de uma mochila, que considerou “mais forte do que a dos corpos abatidos”.

O tio dele era obrigado a carregar uma pesada mochila, como a da foto, onde eram levadas todas as coisas do acampamento, enquanto caminhavam todas as noites até o amanhecer.

Os guerrilheiros tinham um pequeno rádio a pilha com uma longa antena, que era arrojada bem alto, pela manhã, para escutar as notícias do dia. “Sabíamos pela imprensa o que fazia a polícia”, contou o tio.

Ele contou, também, que quando estavam perto de alguma área povocada, comiam frango com gasosa, mas, quando estavam longe, só lhes davam uma colher de mel de abelha pela manhã e outra à noite, além de uma garrafa de água. Como eles não gostavam de buscar água, Luis Lindstrom ficou 40 dias sem tomar banho, conforme escreveu.

Luis Lindstron foi sequestrado pelo EPP em julho de 2008 e liberado depois de um mês de cativeiro. Anos depois, em maio de 2013, foi assassinado por integrantes do mesmo grupo guerrilheiro.

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