Covid-19 e a universidade

Como instituição, a universidade está em posição imprescindível no combate à pandemia de coronavírus.

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* Fernando José Martins I OPINIÃO

A universidade, como instituição, tem estado na linha de frente contra o Covid-19 no mundo todo. É só prestar atenção nos noticiários, em todos os meios de comunicação, de alguma forma, a instituição universitária está envolvida.

Quanto falam dos números nos Estados Unidos e se referem a Johns Hopkins, é importante lembrar que se trata de uma universidade; ao comentarem o sucesso do combate à pandemia no Japão, quem é convocado para dar entrevista? O infectologista Sachio Miura, da Faculdade de Medicina da Universidade de Nagasaki; e assim, poderíamos ficar citando exemplos do mundo todo. Vale ressaltar que é uma ação muito abrangente, desde a pesquisa que vem sendo feita em torno do vírus, o sequenciamento genético, pesquisa sobre medicamentos e produções de vacina, epidemiologia, em várias frentes.

No Brasil, essa ação é mais contundente, pois boa parte de atendimentos voltados à população são feitos nos hospitais universitários. E, em muitas cidades, eles são referência para o atendimento dos infectados do vírus neste momento. Nos mais variados cursos e áreas do conhecimento, estão sendo fabricados insumos para ajudar na pandemia, testes, equipamentos médicos simples, como máscaras, até os mais complexos, como respiradores. O conhecimento é o que dá base para tais ações; é efetivado por pesquisas contínuas e, somado ao processo de inovação, cria alternativas que vão beneficiar diretamente a população.

No caso da Unioeste, temos a ação do Hospital Universitário, nosso HU, que tem atendimento regional e, no momento, é um hospital de referência no Estado do Paraná. Aqui, cabe uma reflexão sobre a importância dos hospitais universitários: dos oito hospitais de referências indicados pelo governo do estado e que constam do site do Ministério da Saúde, quatro, ou seja, metade deles, são hospitais universitários; e cabe salientar que o hospital municipal de Foz do Iguaçu Germano Lauck, que é um desses oito hospitais de referência do estado, é administrado por um servidor da Unioeste, cedido para essa função. 

Mas a ação das Unioeste extrapola o hospital: por exemplo, ainda em Cascavel, o curso de Farmácia viabilizou a produção de álcool em gel para as demandas institucionais e ainda apoia outras instituições públicas. 

Aqui em Foz do Iguaçu, no momento, o curso de Enfermagem está atuando na vacinação dos idosos. E também nossa estrutura está sendo partilhada, como o empréstimo dos veículos da instituição para atender a essa demanda. É importante lembrar também que, desde o começo das ações, ainda preventivas, a Universidade Federal da Integração Latino Americana – Unila – está com os cursos da área de saúde atuando junto ao sistema municipal de saúde. 

Em outra frente, em nosso campus, o curso de Ciência da Computação está produzindo máscaras hospitalares com a impressora 3D, em uma ação integrada com outras instituições, entre as quais se pode destacar mais uma instituição de ensino superior da cidade: o Instituto Federal do Paraná – IFPR – sob a coordenação do Parque Tecnológico de Itaipu – PTI.

Ainda é necessário ressaltar que estamos participando ativamente da ação do Estado do Paraná, no programa Universidade Sem Fronteiras para práticas de enfrentamento ao Covid19. Nessa ação, inicialmente, atendendo a população em centrais de informações (Call Center), para depois, juntos à regional de saúde, em trabalhos direto com a população contra a pandemia.

A universidade está presente, em posição imprescindível no combate dessa pandemia, na construção do conhecimento, ciência, tecnologia e inovação. Por isso, é importante salientar que é um erro, e grave, qualquer corte no financiamento de pesquisas, dessas instituições.

Como afirmamos no início do texto, a universidade está presente, em posição imprescindível no combate dessa pandemia, na construção do conhecimento, ciência, tecnologia e inovação. Por isso, é importante salientar que é um erro, e grave, qualquer corte no financiamento de pesquisas, dessas instituições como um todo. E saliento que esse erro não é de um governo em específico.

Toda vez que se corta investimentos de pesquisas, a nação, e qualquer nação, é prejudicada. E isso ocorre em todas as áreas. Digo isso para enfatizar, de forma prática, as consequências da portaria que exclui as ciências humanas dos editais de fomento à pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) até 2023.

Vejamos a influência dessa atitude no combate ao corona vírus: muito se falou em comparações e sobre a densidade demográfica de outros países em relação ao Brasil. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – a famosa comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, já tinha, na década passada, uma densidade demográfica de 45 mil pessoas por quilômetro quadrado; o principado de Mônaco, que conta com apenas dois km2 e possui, entre os países, a maior densidade do mundo, tem 18.654 pessoas por km2; já a média brasileira é de 24, sim, apenas 24 habitantes por km2!

Pois bem, para fazer as análises sobre esses dados, como agir nesses espaços, como são os serviços públicos ali oferecidos e, consequentemente, que ações seriam mais ou menos efetivas, são necessárias, justamente, as ciências humanas! E lembrando que as atitudes efetivas para o combate à pandemia não estão em uma área de conhecimento “pura”: são, como a realidade, interdisciplinares. 

Assim, de qualquer área, de qualquer instituição, de qualquer universidade, a falta de investimento agride à população. Este texto não é para depor contra um ou mais governantes, é sim para evidenciar ao leitor, à sociedade, a importância do conhecimento, da ciência e, consequentemente, da universidade, para o dia a dia do cidadão, desde o analfabeto até o doutor. O trabalho da universidade está no conjunto da sociedade, não encontrando fronteiras de classes, credos, culturas e países. Assim como o vírus, que assombra o mundo, também não encontra as mesmas fronteiras.

E nessa equação, nessas aproximações e metáforas, a universidade é uma constante em qualquer cenário. Aqui está ela na luta contra o Civid19, estará no tratamento e na cura. Espero que nos lembremos disso.

Fernando José Martins é professor universitário e diretor-geral da Unioeste/Foz.

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