Itaipu, 2023: paraguaios divididos entre negociação dura ou flexível com o Brasil

O governo paraguaio ainda não se definiu, mas os especialistas têm opiniões diferentes sobre como deverá ser.

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Os especialistas paraguaios estão divididos em relação à negociação do Anexo C do Tratado de Itaipu, em 2023: há os que querem que o país seja firme nas exigências ao Brasil, e outros que pregam "prudência e flexibilidade". 

Por enquanto, o governo de Mario Abdo Benítez ainda não definiu uma postura oficial sobre o assunto, a não ser a contratação do economista americano Jeffrey Sachs, francamente favorável às pretensões paraguaias.

Como se sabe, em 2023 a dívida para a construção de Itaipu estará quitada, e o preço da energia poderá cair substancialmente, já que hoje cerca de 70% do que a usina arrecada é para pagar seu credor, a Eletrobras.

O jornal Última Hora ouviu vários especialistas, da linha dura e da linha flexível. Vamos ver o que o Brasil pode esperar dos paraguaios, dependendo da vertente.

Negociação firme

Uma das posições é de que o Paraguai seja mais firme nas exigências ao Brasil, durante a negociação. Começando, por exemplo, que o Paraguai possa vender sua parte da energia de Itaipu a terceiros, apreços contratados, ou que o Paraguai contrate toda a energia que lhe cabe para depois vender ao mercado brasileiros a valores mais elevados.

Victorio Oxilia, ex-secretário da Organização Latino-Americana de Energia, diz que, se os brasileiros se negarem a manter a tarifa de venda atual (que é alta por causa do pagamento da dívida), a alternativa paraguaia é trazer toda a energia que lhe cabe e firmar um contrato direto com o Brasil para vender a preço de mercado, que hoje oscilaria a US$ 55 por megawatt-hora.

O Paraguai deixaria, portanto, de ceder a energia, a preço mais baixo. Oxilia sugere que a administraão desta energia poderia ser feita pela estatal Ande ou outra organização estatal.

Flexibilidade

Outra corrente paraguaia sugere mais flexibilidade e prudência na negociação com o Brasil, porque não há muitas garantias de poder vender a energia de Itaipu a outros países, nem de que o Brasil aceite pagar mais caro por ela.

Para vender a outros países, é preciso começar a fazer as linhas de transmissão e estudar as leis dos países por onde elas passarão e as regulamentações do mercado, diz Héctor Richer, ex-presidente da Ande.

Para ele, a negociação deve ser feita em pacote integral, e não só focar em exigências pontuais. Além disso, antes de vender a terceiros, o Paraguai precisa saber quanto o mercado interno vai consumir. Ele acha que não se pode vender ao preço que se quer, mas ao que o mercado está disposto a pagar.

Já o técnico Nelson Cristaldo é a favor do livre mercado, porque o Paraguai tem um monopólio estatal da energia elétrica "ineficiente e corrupto". Ele acha que o Paraguai deve pensar em comprar a energia que lhe corresponde, e não vender, porque a Ande, como estatal, não faz isso.

Ele diz que não se pode pretender vender uma energia cara ao Brasil, ainda mais que o governo de Jair Bolsonaro já demonstrou que quer pagar barato. Por isso, segundo ele, precisam ser criadas condições para que os empresários e a indústria elétrica paraguaia comprem a energia e garantam o desenvolvimento.

A Ande

O presidente da Ande, Pedro Ferreira, é da linha moderada. Ele acha que o Paraguai deve buscar um preço justo, e "não ficar obcecado em pôr um preço demasiado alto".

Ele lembra que, atualmente, o Paraguai não pode utilizar os 50% da energia de Itaipu que lhe corresponde, mas prevê que isso deva acontecer em uns 12 anos.

Ferreira diz que o Paraguai, no pico de consumo, chega a 3.500 megawatts, o que representa a metade dos 50% da energia de Itaipu de que é dono. Para consumir mais, em primeiro lugar o Paraguai precisa melhorar a distribuição interna, acrescenta.

Quanto à negociação, sugere cautela. "Há várias coisas muito importantes com o país vizinho e eu creio que esta boa relação vai nos trazer grandes benefícios. Nós vamos ter a concentração e o compromisso patriótico de levar a bom termo este tema da renegociação", conclui.

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