Moradores ‘cansam’ de esperar prefeitura, compram material e fazem melhoria em rua na área rural de Foz

Vizinhos juntaram cerca de R$ 6 mil e usaram enxadas para espalhar o rejeito de asfalto. Comunidade também reclama que está sem ônibus há dois meses.

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H2FOZ – Paulo Bogler 

Moradores do Alto da Boa Vista decidiram não mais esperar as prometidas melhorias da Prefeitura de Foz do Iguaçu nas ruas do bairro e optaram por fazer, por conta própria, a benfeitoria. Donos de pequenas propriedades rurais da Rua dos Ipês, eles compraram rejeito de asfalto e o espalharam com enxadas em toda a extensão da via.

Assista ao vídeo:

 

A estrada tem cerca de 600 metros de comprimento. O material e o frete totalizaram perto de R$ 6 mil, valor dividido em cotas para 21 famílias. Foram dois dias de trabalho nesta semana para acabar com a poeira, o barro e os buracos na rua, transtornos que a comunidade afirma que existiam havia mais de dez anos. 

"Nossas crianças precisavam colocar sacolas plásticas nos pés em dias de chuva para ir à escola, chegavam com a roupa suja na aula", relembrou Tania Vaskevicz, uma das voluntárias do mutirão. "Cansamos de esperar pela prefeitura e por políticos que só prometem em tempos de eleição. O trabalho fez calos nas mãos, mas valeu a pena, o resultado está aí", sublinhou. 

Crianças precisavam colocar sacolas plásticas nos pés em dias de chuva para ir à escola, diz Tânia – foto Marcos Labanca

Ao H2FOZ, moradores disseram que o prefeito Chico Brasileiro (PSD) se reuniu com a comunidade, na escola da vila, há cerca de seis meses. "Ele prometeu que iria cascalhar todas as ruas do Alto da Boa Vista. O material seria cedido pela prefeitura, e o maquinário, pela Itaipu. Isso não aconteceu e seguimos com o problema", relatou Tania. 

Melhoria pretende acabar com poeira, lama e buracos na Rua dos Ipês – foto Marcos Labanca

 Morador do lugar há mais de 40 anos, Cláudio Godoy se encarregou da compra do material e do rateio dos recursos – cerca de R$ 250 para cada vizinho. Ele explica que foram necessárias 11 cargas do rejeito asfáltico, com 10m³ cada uma. "Não aguentávamos mais os buracos, a poeira e o barro quando chovia", desabafou. 

A melhoria da estrada não foi a primeira ação coletiva dos vizinhos. A Rua dos Ipês, antes sem nome, foi assim batizada por eles mesmos depois que plantaram 60 pés de ipês. "Ganhamos as plantas de um vendedor de mudas. Agora, esperamos a primeira florada para descobrir suas cores", contou Cláudio. 

Sem ônibus e queda de luz

A comunidade do Alto da Boa Vista denunciou outro problema enfrentado: a falta de ônibus. Há mais de dois meses, disseram, desde o início da pandemia de covid-19, não passa ônibus na vila rural. O precário transporte coletivo percorria a rua principal do bairro em sete horários ao longo do dia. Até parar totalmente. 

"Muitas pessoas dependem de ônibus para ir ao trabalho, mercado ou posto de saúde. Por causa da falta do transporte, vizinhos perderam o emprego", revelou Tania Vaskevicz. "Muitas pessoas precisam pagar mototáxi para ir trabalhar ou fazer algo no centro da cidade", complementou a moradora. 

Já Cláudio Godoy reclama que são frequentes as quedas de energia elétrica, principalmente nos dias de vento ou chuva. "É só armar o tempo para chover que já ficamos sem energia. Reclamamos para a Copel, e sempre nos dizem que estão fazendo manutenção na rede elétrica", expôs. 

Outro lado 

Questionada pela reportagem sobre o motivo das melhorias nas ruas não terem sido feitas, a prefeitura informou que "segue investindo na recuperação da malha viária de toda a cidade, inclusive na área rural". Sem mencionar a Rua dos Ipês, disse que foram realizadas melhorias nos últimos meses em outras vias. 

Conforme a Diretoria de Comunicação, a administração atendeu a uma "antiga reivindicação dos moradores do Alto da Boa Vista" e começou, no ano passado, serviços de pavimentação poliédrica na Rua Manoel Laurindo, com investimento de R$ 1,5 milhão, informou a assessoria.   

A Rua dos Ipês antes das melhorias feitas pelos moradores – foto Arquivo pessoal/Cláudio Godoy

Segundo a explicação, o município possuía "outro cronograma" de obras na comunidade rural do Alto da Boa Vista, que será reprogramado devido à covid-19. "Na próxima semana, uma equipe técnica da Secretaria Municipal de Obras fará uma nova avaliação das ruas para formular um novo cronograma de obras." 

A falta de ônibus no bairro a prefeitura atribuiu a uma liminar do Tribunal de Justiça do Paraná, a qual permite que o Consórcio Sorriso opere a frota com a tabela de domingo, reduzida. "Como na tabela de domingo o ônibus alimentador do Alto da Boa Vista não opera, temporariamente, a linha está inoperante. O Foztrans está trabalhando para que a linha volte."

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Placa artesanal indica o início da Rua dos Ipês – foto Marcos Labanca 
Depois de promessas não cumpridas, moradores decidem fazer por conta própria a benfeitoria – foto Arquivo pessoal Tania Vaskevicz
Vizinhos deverão fazer novos mutirões para a manutenção da rua – foto Marcos Labanca 
Rejeito de asfalto foi comprado e aplicado na rua pelos moradores – foto Arquivo pessoal Tania Vaskevicz
Rua "principal", que dá acesso ao Alto da Boa Vista, também tem problemas – foto Marcos Labanca

 

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