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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta
A imprensa paraguaia cumpre o seu papel: expõe o que até agora estava vedado ao público, as declarações juradas dos políticos sobre seus bens e rendimentos, em alguns casos antes e depois de assumir cargos públicos.
Não há surpresa, pelo que se depreende dos documentos: há quem entrou na política sem nada e hoje tem um capital invejável. E os já ricos ficaram em situação ainda melhor, talvez por aplicarem bem o capital que já possuíam.
Do material publicado nos jornais ABC Color e Última Hora, extraímos alguns exemplos, com nomes mais conhecidos e importantes, do enriquecimento que a política proporciona, ao menos de acordo com as próprias declarações juradas.
Cabe explicar, inicialmente, que a Controladoria Geral da República do Paraguai foi obrigada pela Corte Suprema, nesta quarta-feira (24), a pôr à disposição do público as declarações juradas de bens e rendas de autoridades do país, eleitas ou não, desde 1998 até 2017.
Cerca de 150 mil declarações começaram a ser publicadas na Internet. "Embora a Justiça tenha autorizado a publicação das declarações, esta é uma verdadeira vitória cidadã desta era democrática", diz o ABC Color.
Mario Abdo Benítez
O jornal ABC Color – e nós também – começa com a declaração jurada do atual presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
De cara, uma informação interessante: Marito tem ações de uma empresa que fornece asfalto, beneficiada em várias licitações do governo, antes de ele assumir a presidência. As ações valem cerca de 3 bilhões de guaranis (R$ 2,3 milhões) e representavam sua maior fonte de renda, 80 milhões mensais de guaranis (R$ 61 mil) em dividendos, em 2016, data de sua última declaração jurada.
Seu patrimônio cresceu 9% entre 2013 e 2016 (não há declarações juradas antes do cargo atual).
O presidente, diz o ABC Color, pagava de imposto de renda, anualmente, 30 milhões de guaranis (R$ 23 mil), "o mesmo que gasta mensalmente com roupas".
Em 2013, ele informou que tinha 92 milhões de guaranis (R$ 70,5 mil) em contas bancárias, três delas em dólares (uma no exterior).
Vice-presidente Hugo Velázquez
O crescimento do patrimônio do vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, foi "meteórico", diz o ABC Color, durante os 20 anos em que ocupou funções públicas.
Em sua primeira adeclaração jurada, em 2001, quando estava havia um ano no cargo de promotor, declarou um patrimônio líquido de 441 milhões de guaranis (R$ 338 mil). Em 2017, quando deixou a presidência da Câmara de Deputados, estava com 5,3 bilhões ade guaranis (R$ 4 milhões).
Horacio Cartes
O jornal Última Hora foi atrás da declaração jurada do ex-presidente Horacio Cartes, sucedido por Marito. A declaração, de 2014, diz que ele tinha um patrimônio líquido de 1.629.851.962.811 de guaranis (R$ 1,2 bilhão). E, em apenas um ano, aumentou em 276,6 bilhões de guaranis (R$ 211 milhões).
A lista de propriedades e de bens do ex-presidente é imensa, além de ações em empresas no Paraguai e no exterior (onde se incluem paraísos fiscais como o das Ilhas Virgens Britânicas.
Confira: Agrocitrus del Paraguay SA, Transporte Multimodal SA, Ganadera Sofía SA, Tabacalera del Este SA (Tabesa), Tabacos del Paraguay SA, Agrotabacalera del Paraguay SA, Forestal Agrícola del Amambay SA, Ganadera Las Pampas SA, Habacorp SRL, Cigar Trading SRL, Chajha SA, Aerocentro SA, Ganadera María Sol SA, Sporting Life SA, Paraguay Soccer SA, Criollos SA, Cauce Moro SA, Consignataria de Ganado SA, Bebidas del Paraguay SA, Distribuidora del Paraguay SA, Altus SA, Tabacos USA Inc (EEUU), Valla Global Ventures (Islas Vírgenes Británicas), Bebidas USA Inc (EEUU).
O jornal ABC Color lembrou, por sua vez, que Cartes era "um humilde funcionário" de uma casa de câmbio, em 1980, mas quando chegou à presidência da República, em 2013, já tinha um patrimônio de US$ 200 milhões (mais de R$ 1 bilhão).
Fernando Lugo
Nem o atual senador e ex-presidente Fernando Lugo escapou das vistas dos jornalistas do ABC Color, embora seus bens não tenham uma variação tão grande como de alguns políticos paraguaios.
Quando assumiu a presidência do Paraguai, em 2008, o ex-bispo Fernando Lugo tinha uma camionete velha, não tinha conta bancária e nem dívidas.
Quatro anos depois, quando foi deposto, tinha em contas bancárias 124 milhões de guaranis (R$ 95 mil). Quando entrou no Senado, em 2012, declarou ter ainda joias, obras de arte e presentes no valor de 400 milhões de guaranis (R$ 306 mil).
Em 2017, mantinha os bens, no valor de 400 millhões de guaranis, mas a conta bancária tinha quase evaporado: estava apenas com 200 mil guaranis (R$ 153).
Ministra Gladys Bareiro de Módica
O ABC Color não perdoou: a ministra da Suprema Corte Gladys Bareiro de Módica, a que mais se opôs à divulgação das declarações juradas, tem contas bancárias na Suíça, Estados Unidos e Paraguai, só em dólares.
Sem contar outros ataivos, suas contas somavam US$ 2,3 milhões (quase R$ 12 milhões) em 2011, quando foi vice-ministra de Indústria e Comércio do governo Fernando Lugo. Fora do Paraguai, as contas somavam US$ 563 mil (R$ 2,9 milhões).
Nicanor Duarte Frutos
O ABC Color foi verificar também as declarações do ex-presidente Nicanor Duarte Frutos, sucedido por Horacio Cartes. E concluiu: Frutos passou de "humilde jornalista a abastado pecuarista".
Em 1999, quando assumiu como ministro da Educação, o ex-presidente declarou um patrimônio de 993 milhões de guaranis (R$ 761 mil).
Em 2016, quando deixou a embaixada do Paraguai em Buenos Aires, declarou possuir um patrimônio líquido de 7,7 trilhões (quase R$ 6 bilhões).
Federico Franco
Mas "sorte" mesmo tem o ex-presidente Federico Franco. Ele ficou apenas um ano na presidência, entre 2012 e 2013, substituindo Fernando Lugo, deposto pelo Congresso. Nesse curto período, seu patrimônio e o de sua mulher (a renda dela está incluída) aumentou 22%, como analisou o jornal Última Hora, de 4.669.825.000 de guaranis (R$ 3,5 milhões) para 6.035.964.917 (R$ 4,6 milhões).
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