No Paraguai, 17 mil casamentos são precoces ou forçados

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Meninas e adolescentes se casam com adultos, na maioria das vezes por orientação dos pais.

Um drama paraguaio: mulheres, ainda crianças ou adolescentes, são muitas vezes forçadas pelos próprios pais a se casar com adultos.

O estudo “Invisíveis à plena luz. Uniões precoces e forçadas no Paraguai”, mostra que, em 2017, o Instituto Nacional de Estatísticas registrou que, do grupo etário de mulheres entre 13 e 17 anos, 16.589 informaram estar unidas ou casadas, como noticia o ABC Color.

O casamento forçado com um adulto tem um padrão semelhante ao do “criadazgo”, uma prática antiga no país, em que pais entregam filhos a outra família pela impossibilidade de criá-los, devido à pobreza absoluta em que vivem.

Em entrevista à BBC, a responsável pelas políticas públicas da ONG paraguaia Global Infância, Mabel Benegas, disse que esta prática cresceu muito a partir das duas guerras que o Paraguai enfrentou: a da Tríplice Aliança (1864) e a do Chaco (1932).

A morte de muitos homens fez com que a figura paterna praticamente desaparecesse, disse Mabel. Sem condições de criar os filhos, a mãe entregava-os a outras pessoas de sua própria família.

“Mas esta prática foi se desvirtuando e as crianças já não iam à casa de parentes, mas à de estranhos”, explicou. A ideia das mães é que os filhos tivessem alimentação e escola, mas o objetivo se perdeu no caminho.

Há hoje cerca de 47 mil crianças e adolescentes em situação de “criadazgo”.

VIOLÊNCIA

Esta prática tem similaridade com os casamentos forçados de adolescentes com adultos, uma situação que, segundo o estudo, é ainda mais grave, pois expõe as meninas a diversas formas de violência, inclusive o abuso sexual.

O ABC, baseado no informe, conta que muitas dessas meninas e mulheres casadas ou em união continuam estudando, mas com muita dificuldade. A maioria, no entanto, abandona a escola ao se casar, ainda mais quando estão grávidas.

Muitas gostariam de continuar os estudos, mas há muitos casos em que elas devem assumir tarefas extras, quando por exemplo vão morar na casa das mães do marido.

Somados ao trabalho doméstico, ao trabalho informal e aos cuidados com os filhos, estas meninas e adolescentes enfrentam isolamento social, não têm momentos de recreação e perdem seu grupo de amigas e amigos, entre outras situações.

“SOLUÇÃO”

Diz o estudo: “O matrimônio infantil e as uniões precoces e forçadas restringem as oportunidades de um desenvolvimento integral, aprofundado a desigualdade”.

No entanto, “quando as condições de pobreza e exclusão das famílias são extremas, o problema do matrimônio infantil e as uniões precoces e forçadas pode ser visto como uma solução”.

A apresentação do informe foi feita pelo Fundo da População das Nações Unidas e Plano Internacional, com apoio do Ministério da Criança e da Adolescência.

ABUSO SEXUAL

A maior parte dos abusadores está próxima da criança. Foto Mara Daruich/Municipalidade de Santiago/Flickr

A isso tudo se soma outro problema: o abuso sexual infantil, uma das piores formas de violência contra o menino, a menina e os adolescentes.

O Ministério Público do Paraguai recebeu, entre janeiro e julho deste ano, 1.495 denúncias de abuso sexual em crianças, noticia o ABC Color.

Já na promotoria, chegam diariamente, de todo o país, entre sete e oito casos por dia, de algum tipo de abuso sexual infantil ou de maltrato contra crianças.

Cerca de 85% dos casos de abuso sexual infantil são cometidos por alguma pessoa vinculada ao entorno da criança – um familiar, um amigo ou conhecido, que em geral aproveita algum contexto ou situação de vulnerabilidade.

Os casos são registrados em todo o país.

Há 105 ações contra este tipo de abuso em Assunção, de janeiro a junho; em Concepción, 30; em San Pedro, 57; em Cordillera, 46; em Guairá, 25; em Caaguazú, 21; em Itapúa, 83; em Misiones, 20; em Paraguarí, 34; em Alto Paraná, 157; em Central, 490; em Ñeembucú, 9; em Amambay, 31; em Canindeyú, 44; em Presidente Hayes, 22; e em Boquerón, 12.

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