Gás argentino vem ao Brasil, de depósitos clandestinos, pelo rio e até em roldanas

Perigo está por todo lado. Já houve vítimas fatais de explosões.

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Perigo está por todo lado. Já houve vítimas fatais de explosões.

O assunto já foi abordado pelo H2FOZ, na edição de 23 de março: o perigo que representa a venda ilegal de gasolina e gás da Argentina, nas cidades de fronteira. Confira no link ao final desta matéria.

Agora, é o jornal El Territorio, de Posadas, em Misiones, que aborda o tema na reportagem “Nem a chuva nem a volumosa vazão do rio, nada segura o contrabando de gás na fronteira de San Antonio”. E, certamente, nem em outras fronteiras do Brasil com a Argentina.

O contrabando, diz El Territorio, “ocorre à vista de todos, em plena luz do dia”. Foi até documentado em vídeo pelos próprios contrabandistas, para os quais “não interessam as mortes que enlutaram várias famílias desde alguns anos até agora, nem tampouco os feridos que sobrevivem com sequelas permanentes”.

Uma das áreas em que o contrabando é mais visível é na fronteira entre San Antonio e a cidade paranaense de Santo Antônio do Sudoeste, bem como na fronteira entre Bernardo de Irigoyen e as cidades de Dionísio Cerqueira (Santa Catarina) e Barracão (Paraná).

O jornal explica que o gás, no lado argentino, é transferido dos botijões utilizados no país para os brasileiros, “por meio de sistemas precários, em galpões sem as mínimas condições de segurança”. Depois, vêm para o Brasil, sem nenhum controle.

PELO RIO, EM ROLDANAS

Nesta semana, em meio às intensas chuvas que fizeram transbordar o Rio Santo Antônio (que separa Santo Antônio do Sudoeste da cidade argentina de San Antonio), alagando as casas próximas, o contrabando de gás funcionou a todo vapor. “Para muitos, é a única possibilidade de gerar dinheiro ante a falta de empregos”, explica El Territorio.

Num desses dias da semana, um numeroso grupo de pessoas começou a cruzar o rio até o lado brasileiro, carregando nas costas os botijões de 13 quilos, diferentes dos utilizados na Argentina.

Mas, ante a dificuldade na travessia, acabaram desenvolvendo um sistema de roldanas. E, “talvez emocionados com o próprio invento, se filmaram num vídeo de 5 segundos, que terminou sendo a evidência irrefutável de que o negócio continua próspero e sem pausa na fronteira”.

Por roldanas, pra evitar a correnteza. “Invenção” comemorada pelos contrabandistas. Foto: Captura de vídeo

EXPLOSÕES

O jornal detalha que o gás chega de forma legal às cidades argentinas de fronteira. Depois, em depósitos clandestinos de San Antonio e Bernardo de Irigoyen, é transferido por meio de mangueiras e da gravidade aos botijões brasileiros, para serem vendidos por preços muito maiores que na Argentina em Dionísio Cerqueira ou Santo Antônio do Sudoeste.

“Tudo isso acontece em galpões escondidos e sem nenhum mecanismo de segurança, pese o extremo risco da operação. É uma bomba relógio.”

El Territorio lembra que, no dia 17 de novembro do ano passado, depois de uma apuração que seus repórteres fizeram, constatou que, em um ano e meio, o contrabando de gás já provocou duas mortes.

Agora, houve o caso recente de Márcio Álves Ferreira, de 18 anos, que terminou com 80% do corpo queimado, depois do incêndio no depósito clandestino onde o gás era transferido para botijões brasileiros, em Bernardo de Irigoyen. Ele sobreviveu “por milagre”, mas passou um mês internado e 12 dias em terapia intensiva no hospital argentino de Eldorado.

Márcio, a vítima que escapou da morte, contou ao jornal que durante vários dias as válvulas apresentavam perdas de gás. “Um curto-circuito no sistema elétrico, que era bastante precário, pôs fogo em tudo. Eu tinha a roupa molhada com o gás líquido, por isso as chamas avançaram pelo meu corpo, apenas consegui fugir”, disse.

Depois que teve alta, Márcio procurou os chamados “donos do contrabando”, mas não lhe deram a menor atenção. “Nem sequer o dinheiro para uma pomada”, queixou-se.

SEM EMPREGOS

Ele e tantos outros formam a mão de obra barata para os contrabandistas, que pagam em média 20 mil pesos por mês pelo serviço arriscado (pouco mais de R$ 850,00, pelo câmbio oficial).

“Tem gente que critica, mas o que alguém pode fazer, se este é um povoado pequeno, que não gera nem oferece possibilidades de emprego formal para os jovens? A gente termina fazendo o que pode. É esta opção ou passar fome”, disse o rapaz.

DOIS MORTOS, MUITOS FERIDOS

Foi a primeira vez que houve incêndio num depósito clandestino de gás em Bernardo de Irigoyen, destaca El Territorio, mostrando que é um negócio em expansão na fronteira seca.

Em outubro do ano passado, houve um acidente similar, mas com consequências fatais, em San Antonio, repetindo o que já tinha acontecido em abril de 2020.

Naquele ano, pai e filho, de 54 e 23 anos, ficaram com queimaduras graves em diferentes partes do corpo, quando se incendiou um depósito clandestino de gás vizinho à casa onde moravam. Levados ao hospital de Eldorado, o pai morreu três dias depois.

No ano passado, também em San Antonio, um botijão de gás explodiu quando era manipulado num depósito clandestino, provocando um incêndio. Três homens sofreram queimaduras graves, quando tentavam evitar que o fogo se propagasse. Um deles morreu três dias depois no hospital Ramón Madariaga, de Posadas. Os outros dois sobreviveram, mas com graves sequelas.

“Três casos em cadeia, com consequências fatais, em menos de dois anos. E os controles continuam inexistentes. Pelo visto, não se detém o contrabando de gás”, conclui El Territorio.

No lado brasileiro, como mostra a matéria a seguir, publicada pelo H2FOZ, o perigo ganha as ruas das cidades de fronteira.

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